![PAPO RETO | DE NÓS DOIS](https://static.wixstatic.com/media/408289_aebda12418904badb50a82ba4d140014~mv2_d_2000_2000_s_2.jpg/v1/fill/w_980,h_980,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/408289_aebda12418904badb50a82ba4d140014~mv2_d_2000_2000_s_2.jpg)
_ Pai, o senhor está aí? _ Hahaha! Que isso?! Não está me vendo? Estou aqui, deitado do seu lado. _ Sim.... Me expressei mal. Queria saber se você estava acordado. _ Sim ainda estou, mas por pouco tempo. Rs. O sono já está batendo forte. _ Posso fazer uma pergunta? _ Além dessa? Rs. _ É sim, papai... Além dessa, pode? _ Ora bolas, claro! _ Você vai na igreja sempre, né? _ Sim. _ Você gosta de ir, né? _ Sim. Já foram 2 perguntas, pai!!! _ Rs. Tudo bem. Desculpas. _ Prossiga. _ Outro dia estava olhando pra você, papai, e pensei: como meu pai que é religioso pode ser ateu? _ Nossa, que pergunta! Vocês de 7 anos falam cada coisa! Rs. (Respirou fundo). Bom filhão é melhor irmos por partes. Eu não sou religioso. _ Como não, papai? Nós vamos sempre a igreja. _ Senta aqui vai, deixa eu explicar pra você. _ Religião vem de uma palavra muuuuiiito antiga, de uma língua que nem existe mais.
_ Uai, como falam uma língua que não existe, pai? _ Pois é, ninguém fala mais ela, mas ela já foi uma língua quase que do mundo inteiro. _ Tipo o inglês, pai? _ Isso, tipo o inglês. E nessa língua tem uma palavra: religare dela vem a palavra religião. _ O que significa essa palavra, papai? _ Então, isso que iria te dizer. Significa religação, no sentido da igreja, uma nova ligação entre o homem e Deus. _ Uai papai, mas isso é certo num é, não? _ Nem sei como te dizer, filhão. Mas eu não acho que seja. Não me sinto religioso porque nunca precisei de uma nova ligação com Deus. Em qualquer tempo em qualquer época sempre houve um trabalho de Deus para estar pertinho de nós, então pra mim sempre estivemos ligados, Deus nunca nos deixou. Sobre nenhuma hipótese, sobre nenhuma perspectiva. Aliás filho, sem Deus nada existe. Não há existência. Nunca estivemos desligados para precisar ligar de novo, entende? _ Mesmo na época de Moises, da arca de Noé, de Sansão, de Davi, papai? _ Sim filho, Deus sempre esteve lá tomando o ser humano pela mão. _ Papai, mas a moça da escola dominical falou do jardim do Édem e disse que fomos expulsos. _ Eu sei filho, é um bom ponto de vista. Mas o Deus que eu acredito não é o Deus da criação é o Deus da redenção, tudo isso já estava nos planos. _ Então papai, o grande plano de Deus era a cruz e não a criação? _ Gente... Como você pega as coisas rápido. _ Pai, eu sempre pensei que Jesus tinha morrido na cruz porque o plano do Édem tinha dado errado. _Muita gente pensa assim. Mas nós não somos o remendo de Deus, Jesus na cruz não é o plano B do Pai. Antes de criar qualquer coisa que fosse, Deus já tinha se entregado na cruz. Às vezes penso que porque ele morreu na cruz agora ele precisava criar tudo e todos para justificar essa história. Hahaha. Brincadeira filho. _ Bom então o senhor não é ateu? _ Não, não sou filho, absolutamente não sou. _ Mas você pensa tão diferente de todos na igreja. _ Eu sei, mas eu acredito em Deus. Só não acredito muito em como a igreja “vende” esse Deus. _ Como assim vende, papai? _ A forma como a igreja mostra Deus, nem sempre é a melhor forma. Às vezes as pessoas falam coisas de nós, colocam palavras na nossa boca que nem nós mesmos sabemos. _ Ah! Eu sei, papai. Outro dia a Dona Irene, do 802, disse para a amiga dela que nós que estávamos brincando na quadra éramos pequenos demônios, os marginais do prédio. Então ela vendeu a gente errado para amiga dela, né? Não somos demônios nem marginais, né papai? _ Hahahaha, verdade? Ela disse isso? _ Sim. Eu ouvi, ela falou na entrada do elevador. _ Hehehehe. Essa Dona Irene é engraçada, tadinha. Mas é mais ou menos por ai, você entendeu. Sabe filho, confundimos as coisas, nunca foi nossa missão dizer quem, como, onde, ou o que Deus é. Ele não precisa de projetores, porta vozes ou coisa do tipo. _ O que é nossa missão então, pai? Temos apenas que levar notícias boas às pessoas e contar a elas como são as notícias boas que nós recebemos. E ajudá-las a serem entregadoras de notícias boas. _ Tipo o carteiro, papai? _ É quase um carteiro. Ele não é responsável pelo conteúdo da carta, mas sem ele a carta talvez não chegaria, ou teria mais dificuldade de chegar. Filhão, Lembra quando seu primo quebrou as 2 pernas e ficou um tempão sem ir à escola e sem sair e casa? _Sim, lembro papai! Tadinho, foi engraçado ele bateu com a bicicleta no muro. Rs. Mas foi bom pai, a gente ia lá todo dia. Eu levava o dever de casa e a gente fazia junto, depois brincamos, jogávamos vídeo game e tals... Foi da hora. _ Então, filhão você foi a notícia boa do seu primo. Ele ficaria sozinho e triste, deitado numa cama sem brincar com ninguém. Mas você foi lá e mudou a realidade dele. _ Mudei a realidade dele, papai? Mas eu não fiz nada. Foi tão simples. Eu só queria brincar com ele porque pensei: ficar sem ninguém pra brincar deve ser muito chato. _ É isso, filho. É sempre muito simples. _ Pai... _ Oi... _ Vamos dormir? _ Vamos, sim. _ Acho que não estou entendendo nada. _ Que bom, filho. _ Como que bom? _ Se não está entendendo já começou a entender muita coisa. _ Hã? O que pai? _ Nada... Rs. Deixa quieto. Boa noite. Te amo, filho. _ Te amo, pai. Às vezes acho que o senhor é louco. _ Eu as vezes acho que não. Hehehehe
![FILLIPE GIBRAN | DE NÓS DOIS](https://static.wixstatic.com/media/408289_b9f3800b76be4557bc80ee1259d34e78~mv2.png/v1/fill/w_980,h_399,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/408289_b9f3800b76be4557bc80ee1259d34e78~mv2.png)