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IGREJA - MASSIFICAÇÃO E PADRONIZAÇÃO CULTURAL

Nossas igrejas estão tão inseridas e tão confortavelmente acomodadas no cotidiano, na cultura e no pensamento filosófico vigente que se tornaram apenas mais uma das milhares de instituições que existem na pós modernidade. E como instituições de seu tempo elas reproduzem fielmente todo o paradigma de pensamento do meio em que estão inseridas.


Você deve estar pensando: “de que esse cara está falando?”. Ora bolas... Vamos lá.

Desde o século XVI, principalmente no século XVII, o ser humano vem tentando se afirmar como indivíduo. E, fatalmente, consegue. Porém o tiro saiu pela culatra.


Imagino que os primeiros liberais pensavam que a individualidade seria importante para que cada ser humano pudesse se expressar livremente, tivesse a sua forma de narrar o mundo, a sua própria perspectiva da existência, fossem libertos das opressões dos grandes poderes, porém, isso foi apenas uma ilusão que nunca saiu do plano ideal.


A sociedade pós-moderna objetivava que o indivíduo fosse livre e soberano, mas acabou se tornando uma sociedade de massa. Uma sociedade de indivíduos, é bem verdade, porém, todos iguais.

Parece-me que o fordismo tomou conta de nossas vidas. A sociedade se torna cada vez mais homogênea e massificada, a ponto de o indivíduo não conseguir pensar fora da caixa ou nem mesmo supor a existência fora dela (faça um teste: experimente viver sem nenhuma rede social, nem mesmo email).

Fazer essa análise da sociedade não é muito difícil, aliás, a Professora Hannah Arendt fez muito bem. Por outro lado, ela adverte ainda que a a massificação é uma ferramenta de controle e de poder. Para controlar o indivíduo basta movimentar a massa. Um exemplo simples: se eu quero vender tal camisa basta tirar uma foto de Justin Bieber com a mesma, na manhã seguinte será fatalmente o modelo mais vendido. Já reparou o 'bum' mundial que foi o lançamento do Pokémon? Move-se a massa, controla-se o sujeito.


O problema todo é quando nós, igreja, nos amoldamos a esse discurso - Colossenses 2:8.

Nós que éramos pessoas que sobrevivíamos do partir do pão - que sempre foi nosso - e da solidariedade, passamos a achar virtude no individualismo. Ou você nunca ouviu ninguém dizer: “salvação é individual, hoje eu vim buscar minha benção, é preciso pagar o preço, se você não tiver fé o milagre não acontece”... E por aí vai. Hahaha - Desculpe, mas asneiras dessas são para dar gargalhada mesmo.

E não para por aí. Estamos cada vez mais massificando nossa fé. Igrejas agora são franquias. Todas querem imitar a Hillsong, com paredes coloridas, jogo de luz. Até as músicas não são nossas mais, todas são traduções, versões.

Nossa fórmula mágica de crescimento, que chamamos de célula, é o clássico exemplo da linha de produção, e do mundo corporativo: um modelo, o líder, e milhões de réplicas.


Cada vez mais pessoas rasas, reuniões superficiais, com mensagens superficiais. Não temos tempo de ensinar, não temos tempo para desenvolver, não temos tempo de fazer pensar, é preciso produzir, ganhar almas pra Jesus (ó, glorias!), crescer.

Cada vez mais nossas igrejas são boas empresas, porém péssimos negócios. Riquíssimas em marketing, modelos de crescimento, mas um crescimento estúpido, estéreo, sem uma teologia que se sustente.

As pessoas passam a reproduzir as coisas que ouvem sem fazer a menor ideia do que estão falando. Efeito boiada mesmo. E não é para menos. Segundo pesquisa do FASICLD, 72% dos pastores protestantes leem a bíblia apenas quando irão preparar um sermão. Penso que se ler a bíblia para um pastor está sendo difícil, imagine outras leituras. Agora se o líder está assim o que serão os fiéis?

Infelizmente, cada vez mais, perdemos nossa essência e nos deixamos levar pelos paradigmas filosóficos contemporâneos, pelas estratégias de marketing, pelo gerenciamento e administração do mundo corporativo.


Estamos deixando que os interesses particulares e ambiciosos de ter igrejas gigantescas, inúmeras, que só servem para agraciar o ego do pastor, sobreponha ao interesse geral e o único que importa ser testemunha do Evangelho do Cristo. Diga-se de passagem, esse nem na igreja ia, nem igreja fundou, andava com as pessoas no seu dia a dia, na simplicidade do cotidiano é que Ele se revelava boas novas. Nunca quis para si templos sinuosos ou congregações gigantescas, nunca sonhou em conquistar ”todas as almas” da cidade para Deus. Nunca precisou de estratégia de marketing ou crescimento. Aliás sob a perspectiva moderna, a igreja de cristo fracassou, eram 12 pessoas, uma o traiu, e ELE, o líder, ainda foi preso e morto.

Cristo nunca nos viu como massa, nos via como irmãos, o pai não nos olha como indivíduos nos vê como filhos. É simples e ao mesmo tempo difícil de praticar, porém preciso.


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