Amar é descobrir o que nunca foi visto, o que nunca foi observado, é descobrir os detalhes e os valores que geralmente são ofuscados pelo visível.
É uma observação constante de gestos e olhares; é descobrir o aumento da pupila quando se é observado. É entender que gestos e ações ultrapassam os limites de qualquer palavra, ainda que sejam as mais belas poesias. Fábio de Melo disse que: “O observar silencioso da existência nos capacita para uma formulação de palavras”.
Amar é investigar, não no sentido de controlar, mas de atentamente e constantemente observar os detalhes; é desvendar as expressões do rosto, expressões estas que, substituem palavras e nos comunicam algo que deve ser dito em silêncio; é observar a arte de um olhar.
Amar é demorar, permanecer, descobrir, detalhar. Só pode dizer que ama, aquele que soube ficar e demorar na investigação de cada detalhe da pessoa amada. É enxergar que além dos espinhos existem as rosas; além dos defeitos naturais existem os valores, as qualidades, os ideais e o caráter que procuramos excessivamente em pessoas erradas. Só descobrimos o caráter de alguém quando demoramos na observação daquilo que está oculto.
Amar não é ter uma noite de sexo, mas é descobrir os gostos, os desejos, os sonhos, as palavras escondidas atrás de sorrisos e lágrimas. É construir laços invisíveis que demoraram para serem criados.
Amar é na particularidade dos cheiros desvendar o perfume favorito; na singularidade dos sorrisos encontrar o que te faz feliz; na raridade do caráter observar os avessos, o contrário, aquilo que os olhos não são capazes de enxergar.
Amar é ir a um restaurante e sem que ela diga nada, pedir o prato favorito e observar o detalhe do sorriso dizendo em silêncio: “Como ele me conhece”.
Ficar é para os comuns, amar é para os raros. Observar as curvas do corpo é para os comuns, desvendar os mistérios do coração é para os raros. Se apaixonar por aquilo que se vê é para os comuns, descobrir os avessos é para os raros.
Por isso, hoje em dia quem ama é raro.
Nos acostumamos demais com a facilidade dos acessos que o nosso coração constrói e nos esquecemos que os diamantes estão na superfície, no avesso, no nunca visto, nas regiões onde nossos olhos não conseguem enxergar.
Hoje fiquei pensando... As pessoas partem de nossas vidas sem descobrirmos os seus mistérios e isso pelo simples fato de nos apaixonarmos rápido demais por aquilo que vemos ao invés de demorarmos na investigação dos avessos.
