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TEMOS QUE SALVAR ALMAS? UMA OVA!

[Série: Verdades Mentirosas]


O Evangelho sempre foi e sempre será minoria. O evangelho sempre será perseguido. Não existe pensar Evangelho como modelo de reprodução massificado. O Evangelho sempre será a contramão do mundo, sempre estará em oposição às grandes linhas de pensamento. A perspectiva pós-moderna, hedonista, consumista, capitalista, faz sempre o ser humano focar o pensamento em si, já a proposta do Evangelho é exatamente o esvaziar do ser humano, por isso está sempre na contramão.


Uma das grandes perspectivas religiosas que existe hoje dentro do nosso meio é a necessidade que criamos de converter o mundo. Misturamos conceitos e acreditamos que precisamos "evangelizar" todas as pessoas e precisamos convertê-las. É preciso ganhar almas, mesmo que isso signifique um processo de castração das individualidades, um modelo massificado de reprodução em série.


Formamos crentes sem capacidade de abstração, formatados a um padrão gospel evangelical de viver incapazes de serem pensantes. Criamos um absurdo de tratar o Evangelho como um time de futebol - "antes ele era católico agora ele converteu, mudou de camisa, passou a ser crente ganhei uma alma pra Jesus; antes ele era Espírita, agora mudou de camisa ele é crente, ganhei uma outra alma pra Jesus".


O que dizer? Pegamos a transformação proposta pelo Evangelho e fizemos dela uma simples adoção de práticas religiosas. Tiramos a pessoa de um estágio religioso A e passamos ela para o B e chamamos isso de conversão.


Tá vendo só porquê o Evangelho segue sendo minoria e perseguido nos dias de hoje?


Se eu disser às igrejas que tudo o que elas fazem nada tem com Cristo, serei crucificado.


A proposta é uma mudança de natureza completamente diferente de troca de religião, de assunção de práticas religiosas. Não são usos e costumes, seguir o manual de conduta religioso que vai transformar a vida de alguém. Conversão é a mudança genuína de natureza, é a troca de princípio ativo. Antes o que operava em mim era o pecado, não tinha outra opção na vida senão pecar. Meu DNA era do pecado quando, por algum motivo, o Espírito trabalha em mim e há conversão. O meu DNA é trocado, o princípio ativo é modificado, agora eu já não sou mais um pecador.


Houve uma mudança de natureza e não apenas uma mudança de "camisa de time". Antes eu era escravo do pecado e escravo não tem vontade. Hoje eu sou escravo da boa obra de Deus. Continuo não tendo vontade. Então, hoje eu não peco, não é que eu não queira é que eu não consigo.


O princípio ativo não é mais do pecado. Estou livre dele? Não estou. Ainda existem resquícios de pecado em mim e isso será resolvido na volta de Cristo, porém não consigo mais levar a vida contumaz de pecado que tinha antes. Hoje quando peco, peco eventualmente e a graça e a misericórdia de Deus é suficiente para me perdoar dos pecados.


E isso é conversão. Se antes eu agredia minha mulher e meus filhos, hoje já não consigo mais agredi-los. Existe algo em mim que me constrange e me faz ter vergonha do tempo em que eu era agressor. Não é que eu não queira, é que eu não consigo mais agir daquela forma.


Se antes eu era ladrão, hoje não consigo mais roubar. Não é que eu não queira, é porque existe algo em mim que me constrange e me traz vergonha do tempo em que eu roubava. O DNA foi modificado. Isso é conversão. Não precisei, entretanto, mudar de religião, posso continuar com as minhas práticas religiosas antigas porque o que transforma o ser humano não é religião, não é a pregação, o que transforma o ser humano é o Espírito de Deus. Ele é quem se encarrega de me convencer de tudo quanto preciso ser convencido. É um trabalho dele, não humano.


Sendo assim qual função tem pregar a palavra de Deus? Pregar o Evangelho? Falar a Palavra serve apenas de uma coisa: ser testemunha, testemunhar aquilo que Cristo vem fazendo. Nós vivemos apenas para anunciar as obras já feitas e que estão sendo realizadas pelo filho de Deus. Nada mais. Nada pode ser tão ridículo quanto pregar que salvamos almas. O Cristo nunca disse isso, aliás na visão Dele, talvez perguntaria: "o que é alma?"


Cristo nunca conseguiu compartimentar o ser humano. Essa divisão de alma e espírito ou corpo, alma e espírito é uma coisa nossa e completamente recente. A 3000, 2000 mil anos não se pensava assim. O ser humano sempre foi um inteiro, indivisível. Assim como Cristo era humano e Deus inteiramente indivisível.


Impossível separar quais são as obras de Deus e quais são as obras do homem na pessoa de Jesus. Preocupar-se apenas com a alma é uma teologia fraca, irresponsável de quem não quer se comprometer com a estrutura social, de quem quer se esconder atrás da religião e não quer se comprometer com todo o trabalho que Cristo tem em salvar o homem.


Uma teologia que tem aparência de piedade, mas na verdade esconde a covardia de quem não quer se importar com as dores humanas e falsamente as "espiritualiza" para não precisar de agir. Alma não carece de obras, apenas de oração.


Para ilustrar o que estou dizendo deixo a parábola do bom samaritano, onde havia um necessitado que fora roubado, espancado e deixado no caminho. Passaram por ele alguns religiosos que preocupavam-se apenas com as coisas divinas, que queriam apenas as atividades do templo, apenas em salvar almas. Eles negaram ajuda ao necessitado, porém, alguém que não estava dentro do paradigma religioso, mas que já tinha sido convertido (porque apenas tem compaixão aqueles em que o espírito já trabalhou), este olhou para aquele humano no chão e viu que a vida dele precisava de cuidados, empenhou seu tempo, seu dinheiro, sua atenção em salvar um ser humano.


O samaritano talvez não conhecesse nada sobre a alma, sobre a fé dos judeus, mas de uma coisa ele sabia: havia um humano precisando de ajuda, havia alguém a ser salvo.


Talvez a maior estratégia do maligno para nos fazer estar distantes daquilo que Deus propôs para nós enquanto igreja é criar uma teologia que nos obriga a estar preocupados com a alma, com casa cheia, com bancos lotados e nos desobriga com o maior dos chamados que é nós ocuparmos das necessidades dos outros.





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